Administrando criatividade e inovação em sistemas complexos: uma combinação de processos flexíveis e justapostos em prol de um melhor desempenho individual e coletivo

Resumo: Desde o final do Século XX a literatura sobre gestão e, antes disto, autores como Mintzberg (1978), por exemplo, reconhecem que abordagens caracterizadas como preditivas, rotineiras ou científicas não são muito efetivas para lidar com mudanças descontínuas (Bilton & Cummings, 2014). Tem-se reconhecido, também, que a imprevisibilidade, a dinamicidade e a pluralidade de alguns contextos organizacionais geram implicações tanto na maneira como as decisões são tomadas como, principalmente, na implementação das ações delas decorrentes (Stacey, Griffin & Shaw, 2000). Ou seja, enquanto a administração tradicional enfatiza rotinas e abordagens racionais (Bolman & Deal, 2003), a administração de sistema complexo enfatiza como lidar com a imprevisibilidade, com as incertezas e com a multiplicidade de agentes, muitas vezes, autônomos (Stacey et al., 2000).
Tratar de agentes organizacionais, por sua vez, remete à crescente ênfase que os estudos organizacionais têm dado ao potencial individual. Cada vez mais se destaca a maneira pela qual os indivíduos fazem uso da criatividade, do sensemaking e da improvisação para se adaptarem ou, mesmo, inovarem em sua forma de agir e interagir. A gestão que explora o potencial criativo do indivíduo tem sido denominada por Bilton e Cummings (2014, p. 6) de 'administração criativa' que, ​segundo eles é “uma administração que desenvolve e promove, num processo que mantém unidos ou conecta aspectos opostos flexíveis [loose] e justapostos [tight], ideias e outros produtos ou serviços, ao mesmo tempo, novos e agregados de valor ao longo do tempo”. Em acordo com Bilton e Cummings (2014) entende-se como inovação a mudança e o início de novas ideias, podendo ser resultado de processo ativo (criação, a partir do nada), ou de processo mais passivo de resposta à ‘incidentes felizes’ decorrentes de erros que dão espaço ao inesperado (descoberta), ao invés de forçar uma mudança.
No caso de sistemas complexos as estruturas adaptativas exercem papel importante tanto no que se refere à promoção de mudanças e inovações como na potencialização de comportamento criativo por parte de seus agentes. Isso ocorre porque organizações complexas são percebidas como sistemas abertos em permanente interação com o ambiente, com predominância de características tais como a não-linearidade, a auto-organização e a autonomia relativa dos agentes (Cilliers, 1998; McDaniel, 2007). Nestes contextos, a coexistência de estruturas justapostas e flexíveis se configura como estratégica para que a criatividade e a inovação desabrochem.
Todavia, conciliar estas estruturas distintas (justaposta e flexível, segundo Orton e Weick, 1990) no contexto organizacional demanda um modelo de gestão muito distinto daquele embasado em premissas de linearidade, hierarquia e controle. Ao invés de buscarem sistemas e modelos justapostos, os gestores de hoje tem percebido a necessidade crescente de adaptar os sistemas coletivos ao comportamento individual, adotando controles mais flexíveis e orientados ao potencial máximo de cada indivíduo, ao invés da máxima eficiência organizacional (Bilton & Cummings, 2014).
Bilton e Cummings (2010) destacam quatro principais características que uma gestão efetivamente criativa precisa integrar: inovação, empreendedorismo, liderança e organização. Ainda que estes temas sejam abordados na literatura sobre organizações, em geral, eles têm sido tratados separadamente (Anderson, Potocnik, & Zhou, 2014). Para Bilton e Cummings (2010), entretanto, se inovação é representada por mudanças, além de novas ideias e iniciativas, então, tem-se uma grande dependência da energia e ímpeto dos perfis empreendedores. A liderança, por sua vez, é essencial para garantir o alinhamento de propósitos e direção comum no processo de mudança, enquanto que a organização deve responder pela integração de todos os elementos em um todo sustentável, conectando características individuais, coletivas e organizacionais.
Enquanto tal modelo de gestão pode ser compreendido como desafiador em alguns contextos organizacionais, outros já são notoriamente caracterizados pela pluralidade, dinamicidade e característica autônoma dos agentes (Etzioni, 1964). É o caso de organizações profissionais (tais como universidades, hospitais, entre outras), empresas da área de tecnologia e inovação, agências de publicidade e propaganda, organizações sem fins lucrativos, organizações públicas incluindo, inclusive, políticas públicas (Mintzberg, 1994; Room, 2011; Douthwaite & Hoffecker, 2017; Ivanova, Strand, Kushnir, & Leydesdorff, 2017).
Contraditoriamente às características próprias de sistemas complexos, é comum seus gestores se esforçarem para impor estruturas justapostas na tentativa de garantirem uma “ordem” baseada no controle, impedindo o grande diferencial que é sua capacidade espontânea de adaptação, auto-organização e, consequentemente, evolução (Stacey, 2012). Estas características resultam, em grande parte, das interações (redes de feedback) promovidas pelos agentes e de sua especial capacidade de aprender. Portanto, uma gestão baseada unicamente em premissas de cunho justaposto implica anular os benefícios de iniciativas individuais, além de impedir a oportunidade de uma gestão criativa.
Nesta perspectiva, algumas questões carecem de respostas e ganham ênfase neste projeto de pesquisa. Por exemplo: Quais as características contextuais que potencializam a criatividade dos agentes em contextos complexos? Como conciliar características estruturais que sejam, ao mesmo tempo, flexíveis (loose) e justapostas (tight) a fim de potencializar uma gestão criativa? Quais características e práticas de interação podem ser contributivas para a solução de interesses, perspectivas e/ou processos contraditórios? Como integrar, de maneira cooperada, múltiplos atores e fases de decisão e execução essenciais à promoção de mudanças? Quais as características e implicações das redes de interações na inovação de processos e serviços?
Estes são aspectos que carecem de compreensão mais aprofundada a fim de que se possa, a partir do estudo de experiências individuais e coletivas, implementar modelos de gestão mais propícios à atuação criativa e inovadora por parte de seus membros.
Neste propósito, este projeto de pesquisa tem como principal objetivo analisar as características e implicações da atuação criativa dos agentes (individual ou coletivamente) na implementação de mudanças estratégicas em contextos complexos e pluralistas a fim de propor uma matriz orientadora para a gestão dessa complexidade. Para tanto, são investigados processos de mudança que tenham apresentado impacto significativo em determinado grupo da sociedade, setor de atuação ou região do estado do Espírito Santo. Os contextos complexos e pluralistas são representados, neste projeto, por cases/contextos intra ou Inter organizacionais e que envolvam organizações públicas, parcerias público-privadas, empresas da área de tecnologia e inovação, organizações sem fins lucrativos, iniciativas populares e, inclusive, a implementação de políticas públicas.
Em termos teóricos, este estudo se fundamenta em conceitos relacionados à criatividade, estratégia, complexidade e redes, focando, mais especificamente, no papel do sensemaking e das interações inerentes aos processos de inovação e mudança. Trata-se de uma pesquisa de natureza exploratória e descritiva, adotando-se método misto de pesquisa na análise de casos múltiplos. Os métodos de pesquisa empregados serão de ordem qualitativa e quantitativa. A abordagem qualitativa se dará por meio de entrevistas etnográficas e observação participante e adoção de técnicas de análise de narrativas (Tsoukas & Hatch, 2008). Em termos quantitativos, a pesquisa também fará uso da estratégia de análise de redes, com a utilização dos softwares SPSS 13®, UCINET 6.0.
Espera-se que este projeto possa contribuir na identificação de práticas organizacionais e individuais contributivos à potencialização da criatividade e inovação nas organizações. Busca-se, ainda, identificar características e práticas contributivas ao desenvolvimento de uma gestão criativa, conciliando elementos de estruturas justapostas e flexíveis. Por fim, pretende-se que este estudo possa ajudar a identificar os principais desafios e limitações à criatividade e inovação em organizações de diferentes áreas de atuação e, a partir destes, apresentar pistas sobre como podem ser evitados ou minimizados.

Data de início: 01/10/2017
Prazo (meses): 36

Participantes:

Papelordem decrescente Nome
Coordenador LUCILAINE MARIA PASCUCI
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