O EMPREENDER COLABORATIVO E AS CONTRANARRATIVAS INTERSECCIONADAS DE MULHERES NO TURISMO DE NEGÓCIOS E EVENTOS
Nome: MARIANA MARQUES DE LIMA
Data de publicação: 21/02/2025
Banca:
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Papel |
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ANA FLÁVIA REZENDE | Examinador Externo |
ELISABETH CAVALCANTE DOS SANTOS | Examinador Externo |
JOSIANE SILVA DE OLIVEIRA | Examinador Externo |
JULIANA CRISTINA TEIXEIRA | Presidente |
KATIA CYRLENE DE ARAÚJO VASCONCELOS | Examinador Externo |
Resumo: Esta tese de doutorado propõe uma abordagem crítica ao campo do empreendedorismo, articulando-o à interseccionalidade como chave analítica e ontoepistemológica. A partir das experiências de mulheres empreendedoras no setor de turismo de negócios e eventos no Brasil, buscamos compreender as contranarrativas construídas frente ao mito do “herói empreendedor” – figura hegemônica, individualista e descontextualizada que ainda orienta boa parte da literatura e das políticas públicas. Estruturada em três artigos interdependentes, a pesquisa constrói um percurso teórico, metodológico e empírico comprometido com a complexificação do fenômeno empreendedor. No primeiro artigo realizamos uma revisão sistemática e análise temática da literatura sobre “empreendedorismo e interseccionalidade”. Os achados evidenciam a hegemonia do Norte Global, a centralidade dos marcadores gênero e etnia, e o apagamento da dimensão racial — ainda que esta seja fundadora do conceito de interseccionalidade — apontando para a urgência de abordagens mais críticas, racializadas e sensíveis aos contextos do Sul Global. No segundo artigo desenvolvemos um ensaio teórico que analisa a literatura nacional e propõe o conceito de “empreendedorismo interseccionado” como uma analítica crítica, que reconhece que toda trajetória empreendedora é atravessada por relações de poder, marcadores sociais e condições contextuais. Ancorado em epistemologias do feminismo negro, o artigo propõe categorias de mediação — prática reflexiva, contextualização e coletividade — visando a construção de um campo mais plural, reflexivo, situado e socialmente comprometido. No terceiro artigo investigamos empiricamente as trajetórias de 15 mulheres empreendedoras no turismo de negócios e eventos, revelando como gênero, raça, classe, maternidade e sexualidade se entrelaçam nas experiências de exclusão e sobrecarga, mas também nas formas cotidianas de resistência. O conceito de “empreender entre-nós” emerge dessas práticas, sustentadas no cuidado, na partilha e nos vínculos comunitários. Ao assumir a interseccionalidade como lente ontoepistemológica e política, a tese contribui para a análise crítica das múltiplas dimensões das desigualdades no Sul Global, reconhecendo saberes e práticas frequentemente invisibilizados na literatura dominante. As contribuições do trabalho se organizam em três eixos: (1) metodológicas, ao integrar revisão sistemática, ensaio teórico e pesquisa empírica situada; (2) teóricas, ao propor novos conceitos analíticos; e (3) aplicadas, ao apresentar perspectivas outras ao campo dos Estudos Críticos do Turismo com base nas experiências de mulheres empreendedoras racializadas. Por fim, argumentamos que o empreendedorismo, nesse contexto, é um fenômeno paradoxal: simultaneamente resposta à precariedade e arena de negociação com os imperativos neoliberais. Nessas tramas, a sobrevivência empreendedora é tecida coletivamente, em redes de afeto, solidariedade e reinvenção.