FABULANDO ESPACIALIDADES DIVERGENTES À CISGENERIDADE: uma experiência etnográfica relocalizando corpos no organizar
Nome: ROMULO GOMES
Tipo: Tese de doutorado
Data de publicação: 14/12/2022
Orientador:
Nome![]() |
Papel |
---|---|
LETICIA DIAS FANTINEL | Orientador |
Banca:
Nome![]() |
Papel |
---|---|
ALFREDO RODRIGUES LEITE DA SILVA | Examinador Interno |
EDUARDO PAES BARRETO DAVEL | Examinador Externo |
ELOÍSIO MOULIN DE SOUZA | Examinador Interno |
JOSIANE SILVA DE OLIVEIRA | Examinador Externo |
LETICIA DIAS FANTINEL | Orientador |
Resumo: Esta pesquisa qualitativa teve por objetivo compreender a articulação de
espacialidades com corpos(as) divergentes à cisgeneridade na prática organizativa. A
fim de atingi-lo, utilizei a abordagem etnográfica, ocupando o posicionamento
metodológico, mas também ético, que organiza experiências não SOBRE, mas COM
o campo, numa lógica relacional e de maior horizontalidade entre o pesquisador e as
pesquisadas. A experiência etnográfica aconteceu nos anos de 2019, 2020 e 2021,
iniciando numa organização sem fins lucrativos de direitos humanos localizada em
Vitória no Espírito Santo e estendendo-se para uma organização de arte transformista
na cidade de Salvador, Bahia, ambas espacialmente movidas em termos de gênero
por protagonismos não cisgêneros, por meio de corpas bichas e trans travestis. O
quadro teórico de referência mobilizado é composto pelos estudos organizacionais
sobre espaço e espacialidades, entendendo o espacializar como prática constitutiva
nos e dos processos organizativos a partir de uma ótica micropolítica. Durante o
trabalho de campo, o contato com perspectivas transfeministas foi fundamental para
a reorientação teórica e política da pesquisa. A tese é estruturada por artigos. O
primeiro artigo faz relação com a dimensão metodológica ética da experiência de
pesquisa e introduz o conceito de corpos-em-campo na pesquisa. Ele é sobre gênero,
corpo e sexualidade no espacializar. O segundo artigo faz relação com a dimensão
teórica incorporada e versa sobre o organizar espacial convencional situando o papel
da cisgeneridade neste processo. O terceiro artigo faz relação com a dimensão prática
política no fazer organizacional e propõe o fabular com vistas a um organizar espacial
que não tenha na cisgeneridade sua única inteligibilidade possível. Nesse caminho, o
artigo inventa uma alternativa espacial para cultivar corpas bichas e trans travestis
femininas vivas na organização. Os resultados obtidos apresentaram reflexões,
conceitos e caminhos fabulados para o organizar espacial com o transfeminismo, que
ainda não haviam sido incorporados, teorizados e praticados desde a perspectiva da
cisgeneridade. As principais conclusões apontam que espacialidades divergentes
desbinarizam em gênero o corpo no organizar avançando em relação ao conceito de
espacialidades de corpos(as) ao divergir em relação a cisgeneridade e incluir por meio
6
da noção corpos em campo, as formas de espacializar praticadas pelos(as) corpos(as)
bichas, trans travestis e outras pessoas trans ou não binárias, o que inclui situar o
corpo-pesquisador em um processo no qual ele próprio é implicado, politizando a
produção do conhecimento espacial. Ao defender um argumento de tese segundo o
qual a articulação de espacialidades com corpos divergentes à cisgeneridade na
prática organizativa compõe-se de um contínuo processo de (re)localização de
corpos, gêneros e sexualidades em lugares e não lugares, em que, cotidianamente,
se negociam estratégica e taticamente limitações à atuação espacial não-cisgênera,
esta pesquisa permite desvelar, reconhecer e provocar alternativas ao organizar
espacial cisgênero e transfóbico, nos Estudos Organizacionais, fabulando caminhos
para cultivar corpas bichas e trans travestis vivas na organização.