“Managerialism” na Gestão Hospitalar: uma análise de suas contribuições ao desempenho organizacional

Resumo: Este projeto de pesquisa propõe o estudo da gestão hospitalar contextualizada a partir de conceitos das teorias da complexidade, contrariamente ao defendido por visões funcionalistas sobre as organizações, as quais tem relacionado a adoção de práticas de gestão de cunho empresarial com qualidade, numa acepção limitada entre eficiência e eficácia que ignoram as especificidades organizacionais (McDANIEL, 2007; CORREIA, 2012; PASCUCI; MEYER Jr., 2013). A precariedade das relações entre o setor público e prestadores de serviços de saúde, bem como a necessidade de melhor desempenho tem incentivado muitos hospitais a incorporarem em sua gestão, práticas gerenciais de origem empresarial, cujos resultados têm sido questionados em termos de sua aplicabilidade e eficácia no contexto hospitalar (MEYER; MEYER Jr., 2013). Trata-se de um comportamento tipicamente gerencialista (managerialism), comum aos países ocidentais, que exalta uma mecanicidade, uma racionalidade e uma previsibilidade que não se aplicam à maioria das organizações tradicionais e que se tornam impraticáveis, em se tratando de organizações complexas, pluralistas e profissionais como hospitais (ETZIONI, 1964; JARZABKOWSKI; FENTON, 2006; KUHLMANN; BURAU; CORREIA; LEWANDOWSKI; LIONIS; NOORDEGRAAF; REPULLO, 2013). Neste contexto, esta proposta de estudo assume que o fato de práticas de gestão empresariais adotadas em organizações hospitalares – relacionadas a comando, controle e planejamento, nos termos de Morgan (1996) – serem menos eficazes do que o esperado se justifica não pela aplicação incorreta de seus princípios, mas sim, pela desconsideração da natureza complexa destas organizações (McDANIEL, 2007). Contrário à percepção de organizações como máquinas, cuja dinâmica Newtoniana necessita ser controlada, as teorias da complexidade sugerem que as organizações podem ser vistas como Sistemas Adaptativos Complexos (SAC) (STACEY, 1996; CILLIERS, 1998; RICHARDSON; 2011) onde a ordem emerge do caos, forma bottom-up a partir das inter-relações entre os agentes. Para Etzioni (1964) hospitais caracterizam-se como um dos tipos mais complexos e pluralistas de organizações presentes na sociedade. Trata-se de um tipo de organização profissional onde elementos como imprevisibilidade, pluralidade e autonomia dos agentes, não-linearidade das interações e auto-organização questionam a assertiva de que a ordem e o desempenho sejam essencialmente, resultados da intencionalidade. Adiciona-se a este contexto, conflitos resultantes do poder compartilhado entre autoridade administrativa e autoridade profissional (Mintzberg, 1994), inerente às organizações hospitalares. Uma vez consideradas tais características torna-se claro que metodologias de gestão baseadas em premissas essencialmente racionais orientadas à produtividade, eficiência e maximização de lucros – próprias da “organização máquina” – não funcionem, adequadamente, em sistemas adaptativos complexos como hospitais. Neste contexto, o objetivo geral deste projeto de pesquisa é examinar o impacto da adoção de práticas gerenciais de origem empresarial, identificadas como managerialism, na gestão e desempenho de organizações hospitalares, examinadas como Sistemas Adaptativos Complexos. São objetivos específicos: 1) examinar a gestão hospitalar como um fenômeno possível de ser estudado a partir da ótica de Sistemas Adaptativos Complexos; 2) Analisar, sob a ótica de SAC, a presença e a influência de elementos da complexidade na gestão das organizações hospitalares estudadas; 3) Examinar em que extensão as práticas de gestão adotadas em hospitais seguem o mesmo o grau de padronização e mecanicidade previsto no discurso managerialista; 4) verificar a extensão em que elementos da complexidade constituem-se em barreira à aplicação das abordagens empresariais de gestão no ambiente hospitalar; 5) Analisar a existência e o impacto das práticas managerialistas adotadas no desempenho organizacional dos hospitais. Neste projeto de pesquisa, o sensemaking, a improvisação e a capacidade de aprender – inerentes aos agentes de sistemas adaptativos complexos – são considerados fatores essenciais às práticas de gestão adotadas em hospitais, visando melhor desempenho organizacional. O significado de desempenho, neste estudo é ampliado para considerar, além do âmbito financeiro, questões mais altruístas como a natureza social da atividade, a qualidade e a humanização do atendimento, por exemplo. Trata-se de um estudo multi-casos de natureza qualitativa que tem como foco de análise a realidade de hospitais públicos localizados nas regiões sul e sudeste do Brasil. A coleta de dados adotará quatro principais fontes: entrevistas semi-estruturadas, questionário, observação não participante e documentos. A partir deste estudo pretende-se examinar a extensão em que a introdução de práticas empresariais de gestão contribui, efetivamente, para a melhoria do desempenho de organizações hospitalares. A expectativa é contribuir para o entendimento das possíveis contribuições e limitações decorrentes da adoção de abordagens managerialistas no contexto de organizações complexas e pluralistas como os hospitais. Busca-se, ainda, fornecer subsídios que permitam melhor compreender como as especificidades organizacionais influenciam as práticas de gestão adotadas e os resultados por elas alcançados. Por fim, pretende-se que este estudo possa identificar os erros mais comuns verificados na adoção de práticas managerialistas em organizações hospitalares – considerando sua natureza complexa e pluralista – e, a partir deles, apresentar pistas sobre como podem ser evitados ou minimizados.

Data de início: 10/01/2014
Prazo (meses): 9

Participantes:

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Coordenador LUCILAINE MARIA PASCUCI
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